Padre Tomás Feliu Amengual
Nasceu em 17 de Setembro de 1.933, em Palma de Mallorca – Espanha. Filho de TOMÁS FELIU BLANES E CATALINA AMENGUAL RIBAS. Ingressou no noviciado de Veruela (Zaragoza) em 06 de Outubro de 1.950. Em 28 de julho de 1.963 foi ordenado sacerdote em sua terra natal, Palma de Mallorca.
Durante os anos de 1.968 e 1.969, a serviço da Companhia de Jesus, trabalhou em Havana (Cuba), cuja metodologia de trabalho missionário utilizada, contrariou as orientações doutrinárias do sistema vigente nesse país, o que resultou em sua expulsão, decretada pelo ditador Fidel Castro.
Seu destino seguinte foi o Brasil. Aqui chegando em 20 de Dezembro de 1.969, no Rio de Janeiro. Em 18 de Janeiro de 1.970 chega ao Ceará. Em Março do mesmo ano recebe convite de D. Miguel Fenelón Câmara, Bispo Auxiliar de Fortaleza, para assumir a Paróquia de Trairi que, sem pároco, estava sob os cuidados do Padre Sinval Facundo então pároco de São Luiz do Curu. Na Semana Santa de 1.970 veio conhecer Trairi e ajudou Padre Sinval nas celebrações de algumas Capelas e na sede. Aceitou assumir a Paróquia de Nossa Senhora do Livramento e sua posse se deu em 29 de Junho de 1.970.
Visando estabelecer diretrizes para seu trabalho, mobilizou estudantes filhos de Trairi e realizou uma pesquisa de caráter religioso, educacional, de saúde e sócio econômica, por amostragem, na área da Paróquia. Elegeu a Educação como a prioridade social a ser trabalhada ao lado das atividades religiosas. Tomou a decisão também de atuar nos setores de saúde, fontes de produção, associativismo e reforma agrária.
Na execução de suas prioridades, já em 1.971 selecionou 25 jovens pobres do interior para estudar em Trairi, colocando-os, todos em uma casa, os quais passaram a praticar uma convivência comunitária. Essa comunidade foi denominada de CEPA (Comunidade Estudantil Padre Anchieta). Começo de um grande projeto, que em 1.980 teve seu nome modificado para CEPAN (COMUNIDADE EDUCACIONAL PADRE ANCHIETA).
No mesmo ano, ainda na área de educação, criou dezenas de Escolas Comunitárias Paroquiais, cujos professores eram pagos com recursos do Convênio com a Fundação Inter-Americana). Esse fato impulsionou a aprendizagem no interior e reduziu o índice de analfabetismo vigente.
A Cooperativa de Trairi (um sonho seu de desenvolvimento econômico local) foi iniciada em 24 de Outubro de 1.971 e oficializada em 30 de Março de 1.973. Em 1.972, com a criação da Diocese de Itapipoca, tornou-se o principal articulador na criação das Comunidades Eclesiais de Base – CEB´s, na Diocese e na Paróquia; tendo neste mesmo ano, entre os dias 4 a 9 de dezembro, visitado as Dioceses de Coroatá e Bacabal, no Maranhão, onde as CEB´s já funcionavam, visando conhecer a experiência para facilitar sua implantação na nossa Diocese. Em 1.974 sua contribuição foi decisiva para as mudanças ocorridas no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Trairi, ação que resultou na transferência da administração sindical para os legítimos trabalhadores do campo.
Em 1.975 criou o Centro Educacional Pio Rodrigues, com a inauguração de suas instalações em 1.976. Trairi passou a ter, pela primeira vez de forma permanente, as séries terminais do Ensino Fundamental para seus estudantes. Na sequência de sua prioridade educação, comprou casas em Fortaleza para abrigar os jovens pobres de Trairi cujas famílias não tinham condições de financiarem o estudo de seus filhos na capital.
Grande oportunidade para esses jovens cursarem o Ensino Médio e a Universidade. A primeira dessas casas estava localizada no bairro Henrique Jorge, onde funcionou por cerca de 2 anos. Depois a Comunidade Estudantil foi transferida para uma casa grande comprada da família de D. Paulo Ponte, na rua Gustavo Sampaio, bairro de São Gerardo, para facilitar o deslocamento dos jovens estudantes.
Outras casas foram adquiridas como a da rua 24 de Maio (Centro), Aline Oliveira Colares e projeto Amanhecer na Rua Francisco Mendes (Antônio Bezerra). Começou em 1.975 e concluiu em 1.976 a implantação da primeira Reforma Agrária particular em território de Trairi, quando comprou uma área de 200 hectares no lugar Parra e distribuiu a camponeses sem terra, com casas construídas em sistema de mutirão. Atualmente esse local é a crescente Vila Anchieta.
Em 1.976 assumiu o desafio de, em parceria com o governo do Estado, construir o Hospital de Trairi, contribuindo com a parcela de dez por cento (10%) dos recursos da construção. Para isso solicitou e recebeu ajuda dos católicos alemães através da fundação MISEREOR.
A construção do Hospital foi uma grande conquista para o povo de Trairi, já que a dedicação de Padre Tomás e seus auxiliares nesta área era uma ação contínua de verdadeiros missionários. Apoiou incondicionalmente a luta dos trabalhadores pela permanência na terra, diante da pretensão de domínio dos latifundiários. Foi uma tarefa difícil e, em alguns locais foi causa de geração de conflitos armados. Recorde-se o caso da Fazenda Jandaíra ou Córrego dos Pires.
Comprou 200 violões e distribuiu com os animadores de Comunidades. Esses instrumentos serviram para animar celebrações, missas e reuniões, onde o povo rezava e louvava a Deus por suas conquistas. Suas ações e iniciativas, em quaisquer que fossem os aspectos e foram muitos, estavam estritamente originadas e ligadas nos ensinamentos do Santo Evangelho. A sociedade de Trairi ganhou nesse período um elevado crescimento religioso, fraterno, humanitário e consciência cidadã e cristã.
Algumas de suas ações ainda continuam produzindo frutos, como a CEASPA, (CENTRO DE AÇÃO SOCIAL PADRE ANCHIETA), na Rua Aline Oliveira Colares – Fortaleza. Projeto Amanhecer de Trairi, na sede da CEPAN, Av. Cesar Cals. Centro Educacional Pio Rodrigues, Rua Manoel Teixeira – Trairi. Bosque Amanhecer, Av. Cesar Cals – Trairi.
Centro Agropecuário Criancó – Trairi. Outras como: Casa Escola de Pesca e Projeto Amanhecer de Pentecoste, Projeto Pequeno Cidadão de São Gonçalo do Amarante, Escola Agrícola Padre Pedro Alcântara de Russas, Casa de Apoio de Pindoretama, Casa de Parto Dr. Galba Araújo – Trairi, não funcionam mais. A pequena Casa Escola de Pesca de Alméscegas com terreno, foi devolvida aos seus antigos proprietários. A Casa de Retiro de Mundaú foi transferida para a Diocse de Itapipoca.
Ressalte-se ainda a importância de outras relevantes iniciativas como o banco de telhas e tijolos, criado para financiar a substituição de casas de taipa com cobertura de palhas, de pessoas pobres, por construção de tijolos e cobertura de telhas.
O banco de filtros, para possibilitar o uso de água potável e consequente prevenção à verminose. É impossível enumerar todos os bons feitos de Padre Tomás nas terras de Trairi. Porém, temos consciência de que seu trabalho missionário foi uma verdadeira revolução que só gerou maravilhosos frutos.
Deixou a Paróquia de Trairi em 31 de Dezembro de 1.987.
Faleceu em Palma de Mallorca às 3:50 hs do dia 12 de Fevereiro de 2.015 com 81 anos de idade, 64 anos de companhia de Jesus e 51 anos de sacerdócio. “Durante os 17 anos do seu profícuo apostolado em nossa Paróquia, aprendemos a conhecer e compreender uma nova igreja.
Aquela que, saindo do aconchego instalado entre as paredes dos prédios religiosos, interiorizou-se pelos mais distantes rincões das terras trairienses, ensinando, a um só tempo, a fé cristã e a consciência cidadã; a submissão à suprema vontade Divina e a certeza do inalienável direito que todos tem a uma vida digna.
Despertava no coração do povo mais simples, o verdadeiro sentido de existir e a importância que a cada um deve ser creditada, independente da sua condição social e econômica. Despertava, também, a insatisfação daqueles que, em posição de mando político, não tiveram a grandeza de compreender e aceitar o crescimento da consciência individual do homem comum e a consequente construção da competência coletiva da comunidade. Diante das divergências sobreveio o embate, que ele sempre manteve circunscrito ao campo das ideias. Ideias que geraram ações.
Ações que geraram novas realidades; Sindicato, Cooperativa, Escolas, Associações… Na organização social das comunidades despertou a clara noção de deveres e direitos. No incentivo à educação, alargou horizontes, alimentou expectativas, plantou esperanças.
Hoje, em plena vivência das consequências do seu corajoso e consciente pioneirismo, por certo temos condições de formular, com isenção de ânimo, um conceito crítico sobre o trabalho que ele aqui realizou, e fazer-lhe justiça, principalmente diante daqueles que não souberam ou não quiseram entendê-lo”.